quinta-feira, 8 de abril de 2010

palavrões, por Millôr Fernandes




Aiii...como eu falo mto palavrão, e tenho q me policiar,Photobucket
sei disso, postei um texto de Millôr q eu, sinceramente, me desculpem, AMEI!!!!




"Os palavrões não nasceram por acaso.
São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.
Como o Latim Vulgar, será esse Português vulgar que vingará plenamente um dia.
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de
"foda-se!" que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Me liberta.
"Não quer sair comigo? Não? Então foda-se!".
"Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo?
Então foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal .


Prá
"caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Prá caralho"?
"Prá caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via-Láctea tem estrelas Prá caralho,
o Sol é quente Prá caralho, o
universo é antigo Prá caralho,
eu gosto de cerveja Prá caralho, entende?
No gênero do "Prá caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso
"Nem fodendo!"
O "Não, não e não!" é tampouco nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade
"Não, absolutamente não!" o substituem.
O "Nem fodendo!" é irretorquível, e liquida o assunto.
Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.
Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro prá ir surfar no litoral?
Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Danielzinho, presta atençao, filho querido, NEM FODENDO!".
O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o
"porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.
Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PHD porra nenhuma!" ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!".
O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone","repone" e mais recentemente o
"prepone" - presidente de porra nenhuma.



Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um ou seu correlato
"puta-que-o-pariu"

falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso
"vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!".
Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!".




Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoe a camisa e
saia na rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar
: "Fodeu!".
E sua derivação mais avassaladora ainda:
"Fodeu de vez!".
Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:
O que você fala? "Fodeu de vez!".
Liberdade,
igualdade,
fraternidade e
F O D A - S E! "



By Millôr Fernandes

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